Em um estudo conduzido pela Universidade de Brasília (UnB), pesquisadores investigaram o impacto do óleo de cannabis com proporção 33:1 de canabidiol (CBD) para tetrahidrocanabinol (THC) em pacientes com TEA, com idades entre 5 e 18 anos. A pesquisa, liderada por Jeanne Mazza e com colaboração de Fábio Caixeta, Renato Malcher e Lisiane Seguti, envolveu 30 participantes e durou seis meses.
Durante o período, os pacientes receberam doses diárias do extrato de cannabis, e foram avaliados antes, durante e após o tratamento por meio de entrevistas com pais, cuidadores e acompanhamento clínico. A neuropsicóloga Doris Beserra, que participou do estudo, destacou a aplicação de ferramentas científicas para mensurar aspectos como comunicação, cognição, sociabilidade, sono, humor e aprendizado. Essas ferramentas incluíram escalas padronizadas, protocolos de observação e questionários qualitativos, o que permitiu uma análise mais profunda sobre os impactos reais do uso do canabidiol no cotidiano dos participantes.
Resultados expressivos: melhora funcional e interação social
Os resultados surpreenderam positivamente os pesquisadores. Houve melhorias significativas em vários aspectos, como interação pessoal, comunicação verbal e não verbal, contato visual, cognição, motricidade fina e grossa, e sono. O professor Fábio Caixeta ressaltou casos em que crianças anteriormente não verbais passaram a se expressar, interagir com seus familiares e apresentar maior atenção ao ambiente. Esse tipo de progresso representa não apenas uma evolução clínica, mas um impacto profundo na vida das famílias, que muitas vezes enfrentam anos de busca por alternativas eficazes.
Famílias relataram esperança e bem-estar com os avanços percebidos. Segundo os pesquisadores, os efeitos colaterais foram leves e reversíveis, como irritabilidade ou distúrbios digestivos, sendo facilmente corrigidos com ajustes na dosagem. A tolerância ao óleo de cannabis foi considerada boa pela maioria dos pacientes. Esses efeitos colaterais, além de pouco frequentes, se mostraram significativamente menores que os de medicações tradicionais frequentemente utilizadas em quadros de TEA, como antipsicóticos e benzodiazepínicos, que têm maior potencial de sedar e limitar o desenvolvimento funcional.
Além dos aspectos clínicos, observou-se uma melhoria subjetiva no clima emocional dos lares, segundo os próprios relatos de cuidadores. Crianças passaram a dormir melhor, apresentar menos crises de agitação e a responder com mais abertura aos estímulos ambientais. Isso repercute positivamente em outras esferas, como desempenho escolar, interação com irmãos e redução do estresse dos pais.
Cannabis medicinal como alternativa complementar
O TEA é um transtorno complexo, que afeta o neurodesenvolvimento e apresenta sintomas variáveis em intensidade e manifestação. Por isso, os tratamentos devem ser multidisciplinares, combinando abordagens comportamentais, pedagógicas, nutricionais e, quando indicado, farmacológicas. Dentro desse escopo, o uso da cannabis medicinal surge como um complemento valioso e pouco invasivo, que pode ser ajustado com base no perfil de cada paciente.

A inclusão do canabidiol em protocolos terapêuticos não visa substituir tratamentos convencionais, mas sim oferecer suporte adicional para aliviar sintomas como ansiedade, agitação, insônia, agressividade e dificuldades de interação. O sistema endocanabinoide, presente no corpo humano, atua na regulação de processos fisiológicos como humor, sono, apetite e resposta inflamatória, sendo o CBD um modulador eficaz e seguro. Estudos demonstram que o CBD contribui para a estabilização emocional e melhora da plasticidade cerebral, o que pode beneficiar especialmente crianças com dificuldades sensoriais e de comunicação.
Cabe destacar que a escolha da proporção entre CBD e THC é essencial. Em casos de TEA, geralmente opta-se por altas concentrações de CBD com mínima presença de THC, para evitar efeitos psicoativos e garantir maior segurança, sobretudo em pacientes pediátricos. Ainda assim, observa-se que pequenas quantidades de THC, quando bem dosadas, também podem potencializar os efeitos terapêuticos em algumas situações.
Perspectivas futuras e a importância da orientação especializada
Com base nos resultados, os autores do estudo afirmam que o óleo de cannabis com alto teor de CBD e baixo teor de THC pode ser uma alternativa terapêutica segura, com efeitos positivos não apenas observados clinicamente, mas também reconhecidos por pais e cuidadores. No entanto, reforçam que esse tratamento exige responsabilidade, orientação profissional e continuidade na investigação científica.
Ainda que promissores, os estudos sobre cannabis medicinal e TEA precisam continuar, ampliando a amostra e as ferramentas de mensuração de longo prazo. Somente com ensaios clínicos maiores, controle de variáveis e publicações revisadas por pares será possível estabelecer protocolos amplamente aceitos pela comunidade médica.
O interesse crescente também exige a formação de profissionais especializados. Cada vez mais, médicos, psicólogos e terapeutas ocupacionais buscam formação complementar sobre o sistema endocanabinoide e o uso medicinal da cannabis. Essa capacitação é essencial para oferecer um atendimento seguro, baseado em evidências, empático e livre de preconceitos.
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