Da teoria à prática: como a ciência tem desmentido os mitos
Com o crescimento do número de pesquisas clínicas e revisões sistemáticas nos últimos anos, a ciência passou a ocupar um papel central na reformulação do debate sobre o uso terapêutico da cannabis. As universidades, centros de pesquisa e órgãos reguladores passaram a reconhecer, com base em dados consistentes, o valor medicinal de compostos extraídos da planta Cannabis sativa, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). Esse movimento foi impulsionado por estudos em diversas áreas da saúde, desde neurologia e psiquiatria até oncologia e medicina da dor, o que reforça a pluralidade de aplicações clínicas possíveis.
Além disso, a formação de profissionais especializados e a difusão de cursos voltados à prescrição segura desses compostos têm contribuído para aumentar a confiança do corpo clínico e permitir que mais pacientes sejam tratados com respaldo técnico. Esse cenário revela uma tendência global: a de substituir o preconceito por informação baseada em evidência e prática clínica responsável.
Avanços e formação de profissionais
Durante muito tempo, o uso da cannabis medicinal foi associado a estigmas sociais., principalmente em razão da confusão entre seu uso terapêutico e o uso recreativo da planta. Isso fez com que mitos se perpetuassem mesmo diante de um crescente corpo de evidências científicas. Ao compreender o que é mito e o que é fato, podemos promover uma discussão mais madura e embasada sobre esse recurso terapêtico.
Um dos mitos mais comuns é o de que não existem estudos sérios sobre a cannabis medicinal. Na verdade, milhares de pesquisas já foram realizadas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, demonstrando seu potencial terapêutico em uma ampla variedade de condições médicas. Doenças como epilepsia refratária, dor crônica, transtornos de ansiedade, insônia, esclerose múltipla e doenças neurodegenerativas têm mostrado bons resultados com o uso de canabinoides como o CBD e o THC em contextos controlados. Diversas instituições internacionais, como a OMS, e agências nacionais, como a Anvisa, reconhecem esses avanços e têm contribuído para regulamentar seu uso.
Outro equívoco frequente é acreditar que produtos à base de cannabis possam incentivar o uso de outras drogas. Esse temor se baseia na antiga “teoria da porta de entrada”, que já foi amplamente questionada e refutada por novos estudos. O principal composto utilizado em tratamentos é o canabidiol (CBD), que é não psicoativo, não causa dependência e, inclusive, vem sendo estudado como uma opção para ajudar pessoas a se libertarem de outras dependências, como álcool, nicotina e opioides. Seu perfil de segurança é um dos motivos pelos quais ele tem sido amplamente aceito pela comunidade médica.
A relação entre legalização da cannabis medicinal e criminalidade também é alvo de desinformação. Análises de dados em países como Canadá e Israel demonstram que a regulamentação não está associada a aumento de crimes. Na verdade, ela pode contribuir para reduzir a atuação do mercado ilegal, oferecendo produtos controlados, seguros e acessíveis para quem realmente precisa. A regulação melhora a rastreabilidade dos medicamentos e promove segurança tanto para os pacientes quanto para a sociedade.
Também é recorrente a ideia de que liberar o uso medicinal da cannabis levaria a um aumento do consumo recreativo entre jovens. No entanto, estudos indicam que a regulamentação controlada e voltada à saúde não eleva os índices de uso entre adolescentes. Quando bem aplicada, a regulação foca no uso médico e não permite o acesso indiscriminado, sendo inclusive acompanhada de campanhas educativas.
Outro temor comum está relacionado ao risco de overdose. É importante esclarecer que não há registros documentados de overdose fatal por uso de cannabis medicinal. O CBD, em particular, possui um amplo perfil de segurança, e mesmo os casos de efeitos adversos relatados (como tontura, sonolência ou desconforto gastrointestinal) costumam ser leves, temporários e facilmente controláveis com a orientação adequada. Com acompanhamento profissional, os riscos são minimizados.
Há também quem acredite que a ONU proíbe o uso medicinal da cannabis. Esse é um mito importante de ser corrigido. Em 2020, a Comissão de Narcóticos da ONU aprovou uma mudança histórica na classificação da cannabis, reconhecendo seus usos médicos e retirando-a da lista mais restritiva de substâncias controladas. Essa decisão abriu caminho para uma regulamentação mais abrangente em diversos países.
Impactos no cotidiano e na qualidade de vida dos pacientes
Quanto à capacidade laboral de pacientes em tratamento, é importante saber que medicamentos com CBD não interferem na capacidade de trabalho ou cognição. Já os medicamentos com THC podem causar sonolência ou alterações cognitivas em alguns casos, por isso sua administração deve ser feita com cautela e indicação adequada. Em geral, os pacientes conseguem manter suas atividades normalmente, desde que sigam acompanhamento médico.
Por fim, há quem acredite que a cannabis é uma cura milagrosa para todas as doenças. Embora a planta tenha um potencial terapêutico muito promissor, é essencial compreender que ela não substitui tratamentos convencionais em todos os casos. O uso medicinal deve sempre ser parte de uma estratégia integrada de cuidado, definida por um profissional de saúde, considerando as particularidades de cada paciente.

O papel das evidências no combate ao preconceito
A persistência de mitos sobre a cannabis medicinal, mesmo diante de tantos dados disponíveis, evidencia como o preconceito ainda é uma barreira para o acesso ao tratamento. A falta de políticas públicas de educação sobre o tema contribui para que boa parte da população permaneça mal informada. Iniciativas de conscientização, como campanhas, congressos e a produção de conteúdo informativo, têm papel decisivo nesse processo de esclarecimento.
No Brasil, plataformas como a Cannacloud contribuem para democratizar o acesso não só ao tratamento, mas também ao conhecimento, conectando pacientes com médicos prescritores, orientando sobre os trâmites legais e oferecendo suporte contínuo. A divulgação de estudos e a atuação responsável de profissionais da saúde são passos fundamentais para transformar a percepção da sociedade sobre esse recurso terapêutico.
Regulamentação, acesso e o papel da informação
O Brasil vive um momento decisivo quanto ao avanço da regulamentação do uso medicinal da cannabis. Embora o uso recreativo ainda não seja permitido, a Anvisa, por meio da RDC nº 660/2022, permite a importação e o uso de produtos à base de cannabis para fins terapêuticos, desde que haja prescrição médica e autorização prévia. Isso representa um avanço significativo, embora ainda limitado se comparado a países como Canadá, Israel e Alemanha, onde a regulamentação é mais abrangente.
Para além das barreiras legais, o custo dos produtos e a falta de informação adequada ainda são desafios enfrentados por pacientes brasileiros. Por isso, iniciativas que visam ampliar o acesso e fornecer informações confiáveis são essenciais para garantir o direito ao tratamento seguro, eficaz e acessível.
A quebra de mitos e preconceitos é um passo fundamental para que mais pessoas possam se beneficiar com segurança e consciência do uso medicinal da cannabis. A ciência já oferece suporte suficiente para avançarmos com responsabilidade, e o Brasil conta com legislação que permite seu uso, desde que dentro dos critérios legais.
A Cannacloud está ao lado de pacientes que desejam acessar esse tipo de tratamento com respaldo, segurança e orientação. Se você ou alguém próximo está buscando alternativas para sua condição de saúde, entre em contato com nossa equipe.
